Universidade de Cornell vê possibilidade de utilização sustentável de um dos principais subprodutos da produção de vinhos
Uma indústria que vê na sustentabilidade o seu futuro, e que procura cada vez mais reduzir o impacto (bem como as perdas) que sua produção acarreta, deve sempre ir em busca de reutilizar principalmente seus resíduos – e se eles fizerem bem à saúde, melhor ainda.
Por isso, para a indústria do vinho, uma das melhores notícias parece vir de um estudo feito por cientistas de alimentos da Universidade de Cornell, que encontraram mais evidências de que o bagaço de uva vermelha oferece potenciais benefícios nutricionais. Através do uso de compostos polifenólicos de bagaço de uva vínica (as peles e sementes que sobram da vinificação), eles descobriram que é possível reduzir o desperdício e melhorar a saúde intestinal e cardíaca das pessoas.
"Esse subproduto da fabricação de vinho tem um potencial importante", conforme Elad Tako , pesquisadora-chefe e professora associada de ciência de alimentos na Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida de Cornell, relatou à revista Wine Spectator. Ela continua: "se pudermos usar o bagaço para extrair compostos chave ou usá-los como ingrediente dietético para ser adicionado em alimentos, então o bagaço de uva pode ser uma fonte muito sustentável de compostos nutricionais com benefícios demonstrados para a saúde."
Para o estudo, que foi publicado na revista norte-americana Nutrients, Tako e sua equipe colaboraram com a Dra. Justine Vanden Heuvel, da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida de Cornell, para obter uvas dos vinhedos da universidade, que fica na região de Finger Lakes, na Califórina. A equipe analisou especificamente dois compostos, o resveratrol e o pterostilbeno, normalmente encontrados em plantas, principalmente em uvas. Estes compostos são normalmente ligados à redução do risco de doenças cardiovasculares e diabetes, embora ainda haja dúvidas sobre como nosso organismo metaboliza as substâncias.
Não é a primeira vez que o resíduo entra no radar científico pelas suas propriedades, já que estudos da Embrapa em parceria com a UFRJ já haviam demonstrado em 2014 que a concentração de antioxidantes em bagaço de uva chega a ser 50% maior que na polpa de açaí, conhecida por ser um “superalimento”, o que a qualificava como importante fonte de bioativos muito interessantes para a indústria. A novidade é a ligação de compostos de utilização específica para melhorias no trato intestinal, e não apenas na utilização dos compostos antioxidantes.
Foram coletadas amostras do bagaço de variedades Cabernet Franc, Concord e Noiret (variedade desenvolvida pela Universidade de Cornell), o grupo de pesquisa extraiu as duas substâncias e as injetou em ovos de galinha, um modelo desenvolvido por Tako antes deste estudo em decorrência da semelhança da microbiota intestinal de frangos e humanos verificada pela equipe da Dra. Tako. "Devido ao seu rápido amadurecimento, o modelo de frango tem sido usado como modelo de nutrição humana."
Estudando esses embriões e outros embriões de grupos de controle, o grupo aprendeu como o resveratrol e o pterostilbeno afetam o trato gastrointestinal, bem como outros sistemas fisiológicos e tecidos. A equipe descobriu que os embriões que consumiam os extratos das substâncias aplicadas tinham funcionalidade intestinal aprimorada e capacidade de absorver micronutrientes. Com o aumento da saúde intestinal, os pesquisadores veem isso como um avanço promissor para aproveitar esses nutrientes obtidos de subprodutos da produção do vinho para tratar uma variedade de doenças.
Enquanto a equipe observa a necessidade de mais pesquisas de longo prazo, o estudo de Tako adiciona-se à crescente lista de benefícios para a saúde e o meio ambiente da reutilização do bagaço, que já é amplamente utilizado na indústria cosmética pela ação antioxidante. "Nossa pesquisa é significativa, pois apresenta a ideia de usar o bagaço de uva como uma fonte sustentável de substâncias que podem potencialmente ser usados como ingredientes dietéticos", disse Tako à publicação Wine Spectator. "Além disso, usar o bagaço é uma das formas sustentáveis de lidar com condições como diabetes." Mais um motivo para aproveitar uma taça de vinho sem culpa!
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