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  • Foto do escritorGuto Martinez

O desafio da seca na África do Sul

Redução no volume de chuvas derruba produção vinícola


Por Guto Martinez


As dificuldades que muitas cidades da porção austral da África do Sul enfrentam em relação à falta d´água alcançou também os vinhedos: a produção foi drasticamente reduzida neste ano em relação à média histórica.


Com as colheitas do hemisfério sul sendo finalizadas ao longo do mês de abril, os resultados de um crescimento populacional combinado com o regime de chuvas reduzidas na região do Cabo, que responde por 60% das exportações de vinho do país, começam a contabilizar perdas. A VinPro, organização que representa a vinicultura no país, estima que a produção foi a menor desde 2005, com uma queda de 15% em 2018, em relação ao ano anterior.


Uma das piores situações é a de Swartland, que fica ao norte da Cidade do Cabo, e onde as perdas chegam a 50%. O resultado vai além da redução na produção: alguns produtores já declararam que os preços das uvas devem subir no curto prazo, o que acaba tirando competitividade do vinho a granel, normalmente o maior responsável por manter a saúde financeira dos produtores.


Embora esta seja a visão geral, cada produtor irá enfrentar uma situação distinta. Alguns têm os efeitos da seca amenizados por questões de microclima, ou pela irrigação artificial, enquanto outros poderão até mesmo se beneficiar de um regime de seca mais intenso, que pode trazer até uma qualidade maior para as uvas - e até mesmo a idade das uvas foi determinante, pois alguns produtores de vinhas velhas tiveram perdas muito menores do que os donos de vinhedos jovens. A histórica região de Constantia, aliás, teve um dos menores reflexos: por depender pouco de irrigação, os vinhedos devem ter produção ligeiramente menor, e alguns informam que o rendimento só caiu em relação a 2017 por este ter sido acima da média.


Outro reflexo da alteração na quantidade de chuva da região foi a opção de alguns produtores em trocar as variedades plantadas por outras mais resistentes à seca. Algumas variedades italianas ou espanholas, por exemplo, podem vir a ser mais comuns nos rótulos sul-africanos.


A crise, contudo, se mostra mais profunda. A diminuição da rentabilidade dos vinhedos já empurra diversos produtores para fora do mundo do vinho, convertendo a área plantada para uvas de mesa ou até mesmo para outras frutas, como maçã e pera. Contudo, o resultado pode ser até mesmo positivo para a vinicultura do país: com os grandes produtores encolhendo, pequenas vinícolas de maior qualidade, mais interessadas em vender o vinho engarrafado ao consumidor. Se toda crise traz uma oportunidade, esta pode ser a chance da África do Sul dar um salto qualitativo, e ultrapassar a perda de volume.

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